Zero Hora: Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos traz alerta sobre automedicação

 

Cerca de 25% da população brasileira toma remédios por conta própria pelo menos uma vez por semana. Data é celebrada nesta quarta-feira (5)

 

Em um dos países que mais usam remédios no mundo, vem a calhar a criação do Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado nesta quarta-feira (5). No Brasil, segundo pesquisa do Conselho Federal de Farmácia realizada pelo Datafolha, cerca de um quarto da população possui o hábito de se automedicar ao menos uma vez por semana e quase metade (47%) dos brasileiros faz uso de medicação sem prescrição médica no mínimo uma vez no mês.

 

Apesar de sua importância para uma série de tratamentos de saúde, o uso excessivo dessas substâncias pode gerar efeitos colaterais, tanto a longo quanto a curto prazo.

 

Uso irracional

 

Fazer uso de medicamentos de forma irracional significa, entre outras coisas, consumir essas substâncias sem necessidade. Segundo Debora Raymundo Melecchi, integrante do Conselho Nacional de Saúde, essas substâncias são insumos de proteção à vida, mas requerem uma racionalidade de uso. Seguindo prescrição médica e respeitando o tratamento, reduz-se os riscos de efeitos adversos.

 

— A pessoa vai utilizar medicamento se tiver necessidade, por um tempo específico. Precisa ser utilizado com prescrição — salienta.

 

Riscos

Todos os remédios podem desencadear efeitos adversos nos seres humanos e intoxicação. Os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), de 2017, apontam que cerca de 27% das ocorrências de intoxicação no Brasil são causadas por uso indevido de medicamentos — sendo que 2% correspondem à automedicação, conforme o presidente do Sindicato das Empresas do Complexo Industrial da Saúde do RS, Thomaz Nunnenkamp —, número que representa praticamente o dobro dos casos de picadas de animais peçonhentos, que ocupam a segunda posição.

 

Além das intoxicações, o uso irracional pode provocar consequências como falência renal, reações alérgicas, dependência e, em alguns casos, até a morte.

 

O kit covid

Um exemplo atual sobre o tema é o chamado kit covid, como ficou conhecido o ineficaz tratamento precoce à doença com medicamentos como cloroquina e azitromicina, que têm sido utilizados sem comprovação de eficácia durante o período da pandemia. Por causa do uso dessas substâncias — que são importantes para o tratamento de outras doenças —, tem se observado nos pacientes danos no fígado e mais propensão às complicações do coronavírus.

 

Bactérias resistentes

Entre os riscos a longo prazo do uso irracional de medicamentos, um dos alertas mais importantes é para o desenvolvimento de bactérias mais resistentes. Substâncias antibióticas são utilizadas para combater infecções bacterianas por um tempo específico e em doses prescritas por um profissional de saúde.

 

Embora necessário em muitos casos, o consumo indiscriminado desse tipo de medicamento acaba selecionando organismos mais resistentes, cuja proliferação pode resultar em um grande problema de saúde pública.

 

— Ao longo das décadas, as bactérias passaram a sofrer modificações nas suas estruturas que as tornaram resistentes a alguns tipos de antibióticos — explica Debora Melecchi.

 

Como agir
Em primeiro lugar, deve-se evitar a automedicação. Ao sentir algum problema de saúde, deve-se procurar atendimento profissional, que indicará o melhor tratamento, sendo medicamentoso ou não. Ao receber prescrição para utilização de remédios, deve-se seguir as instruções e, em caso de dúvidas, a recomendação é que se consulte um médico ou farmacêutico.

 

Não se deve indicar o uso de remédios a amigos e familiares. Por menor que pareça o problema de saúde, como uma dor de cabeça ou muscular, deve-se aconselhar as pessoas a procurarem um atendimento especializado em vez de sugerir o uso de medicamentos, por causa de seus possíveis efeitos adversos.

 

Outra questão fundamental é atentar para o descarte. Medicamentos que não serão mais utilizados e, especialmente, se estão vencidos devem ser levados a estabelecimentos de saúde que respeitem os critérios de segurança — em geral, hospitais, postos de saúde e farmácias. O descarte indevido pode levar esses fármacos a serem consumidos por outras pessoas ou provocar contaminação em animais e/ou no ambiente.

 

Fonte: Debora Raymundo Melecchi, conselheira do Conselho Nacional de Saúde, diretora da Federação Nacional dos Farmacêuticos e presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no RS.

Produção: Állisson Santiago – ZERO HORA.