Farmacêutica…e voluntária para os testes da vacina contra a COVID-19.

Depois da aprovação pela ANVISA, dos dois primeiros pedidos de uso emergencial das vacinas contra a COVID-19 (CORONAVAC e ASTRAZENECA), muito se falou sobre o fundamental trabalho desenvolvido por profissionais farmacêuticos. Em toda a etapa para a disponibilização das vacinas para a sociedade, que envolve desde a pesquisa até o relatório técnico apresentado pela Agência, farmacêuticas e farmacêuticos cumpriram seu papel, com forte relevância social.

 

Existe um grupo no entanto, que particularmente acho que foi pouco citado nesse processo, formado pelos voluntários e voluntárias que se disponibilizaram para os testes clínicos sobre as vacinas. Homens e mulheres que acreditaram na ciência e se dispuseram a cumprir esse importante papel. Dentre eles, farmacêuticos e farmacêuticas se prontificaram para cumprir a esse papel e se colocaram à disposição da ciência.

 

A partir desta postagem, vamos divulgar os depoimentos de outros(as) colegas que participaram como voluntários(as). Se é o seu caso, envie seu depoimento para oblogdomarcoaurelio@gmail.com.

 

Abaixo, o depoimento de Marta Pereira, uma amiga farmacêutica de muito tempo, contemporânea de faculdade, que foi uma das voluntárias. Parabéns Marta. Muito orgulho de você.

 

“Eu estava tranquila, dando aula de farmacologia, quando iniciou a pandemia.
E começou a me incomodar estar assistindo as notícias, e não participar ativamente deste acontecimento histórico. Então após dez anos longe dos hospitais, resolvi trabalhar no hospital de Campanha do Guarujá. Acompanhei 86 óbitos pessoalmente, a falta de alguns materiais, a exaustão física e a emoção das altas (como se fosse uma batalha vencida, cada paciente que saia).

 

No refeitório e no dormitório, todos tiravam as máscaras, pois era um momento de respirar; e eu pensava, nós aqui devemos ser portadores, pois estamos sem proteção.

 

Quando li sobre a vacina, observei a quantidade de chineses que já tinham tomado sem ter efeito colateral. Naquele momento precisavam de duas mil pessoas que tivessem contato direto com pacientes comprovadamente com covid19.

 

Confesso que achei pequeno o número de voluntários , e no primeiro momento mandei meus dados achando que já tinham completado a pesquisa, mas para minha surpresa, eram poucos os candidatos.

 

Fui até o hospital das clínicas, fiz o teste rápido; colheram todos os exames e eu estava apta a participar. No mesmo dia, tomei a primeira dose; saí com um diário e um disco para observar o local da aplicação. Não senti absolutamente nada, no local não conseguia localizar a picada. E todos os dias tinha que marcar: se tive febre, se vômitei, se tive dor de cabeça, se tive diarreia, ou qualquer outro sintoma.

 

Fiquei frustrada, falei eu tomei placebo. No retorno, após quinze dias, novamente coleta de sangue, suab, urina. Na consulta médica, ao devolver o diário, falei para médica pesquisadora, acredito que tomei placebo, ela disse que na primeira etapa da pesquisa, as pessoas que mais relataram sintomas, tinham tomado placebo.

 

Outro diário de 15 dias, e nenhuma reação. E na consulta após um mês, eu pedi meu IgG e IgM. Ela explicou, nem eu tenho acesso aos seus exames; por isso chama duplo-cego. Emitimos 5 cópias do relatório: para USP, Butantã, ANVISA, Ministério da saúde e uma para o Comitê Independente. Quem vai autorizar a abertura do duplo-cego é o Comitê, e vamos ter acesso ao resultado no mesmo momento que for divulgado para o público.

Todos os meses seguintes, continuei com consultas médicas, coletas de sangue e relatos semanais pelo whatsap, como eu estava me sentindo.

 

No dia 22/01 fui convocada para abertura do duplo-cego. Fiquei sabendo que estava imunizada, e somente agora pude solicitar os exames, que chegarão para próxima consulta.

 

Eu particularmente acredito que cada um tem o direito de escolher se toma ou não a vacina. Mas assistindo os óbitos, pessoas que estavam bem aparentemente e em 6 horas evoluíram para o óbito, sem sintomas clínicos ou laboratoriais, simplesmente a saturação de oxigênio foi baixando e os medicamentos não fizeram efeito. Eu aconselho a tomarem, baseados na ciência.

Até hoje os anticoncepcionais tem 99% de eficácia.”

 

Fonte: Blog do Marco Aurélio