Autonomia: Saúde Mental é pauta prioritária durante 8ª Conferência Estadual do RS
Diante das mudanças recentes na Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), que ferem os princípios da Reforma Psiquiátrica, alguns participantes da 8ª Conferência Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul se reuniram com autoridades na última sexta (24/05), em Porto Alegre. A principal demanda trazida é a de aproximação dos usuários da saúde mental para a elaboração e desenvolvimento das políticas na área, incentivando a participação social e o protagonismo dos usuários.
A Casa AMA – Auto Mútua Ajuda, uma ONG gaúcha especializada no acolhimento de pessoas em vulnerabilidade mental, está completando uma década. Por isso, trouxe o psiquiatra italiano referência para a área da saúde mental no mundo, Renzo di Estefani, que compareceu ao maior evento participativo do Rio Grande do Sul, para se reunir com Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS); Arita Bergmann, secretária estadual de saúde do RS; e com Diego Espíndola, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems).
Na reunião, os participantes chegaram à conclusão de que é necessário incluir os usuários como parte dos planos terapêuticos, aproximando-os da participação social e da elaboração de políticas no Sistema Único de Saúde (SUS). Pigatto garantiu que esse será um tema de relevância para a saúde no Brasil. “Estamos tendo percalços na PNSM, que vêm contrariando tudo o que defendemos. Por isso, na 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8), esse é um dos temas prioritários”, disse. O evento nacional vai ocorrer em Brasília, de 4 a 7 de agosto.
Para Espíndola, “é importante a inclusão dessas pessoas, trazendo-as de volta para a sociedade. Elas têm um volume grande de conhecimento a partir da própria experiência. Sem dúvidas, isso pode melhorar o conhecimento técnico”, afirmou. A secretária de saúde, Arita Bergman, defendeu a pauta. “A Itália é o berço da Reforma Psiquiátrica, precisamos pegar essas referências e não podemos aceitar a possibilidade de retorno dos manicômios”, disse.
Renzo di Estefani, que coordena o Encontro de Usuários e Familiares da Saúde Mental em Trento, na Itália, defendeu a fusão de saberes. “Nossa filosofia e nossa prática fundamentam que saberes de usuários e profissionais da saúde mental, juntos, podem melhorar as ações. Temos que unir os saberes para melhorar a técnica”, defendeu. O grupo saiu com o compromisso de aprimorar o debate para requalificar as ações para a área tanto no Rio Grande do Sul, quanto diante das propostas que vão para a 16ª Conferência.
A ex-usuária de saúde mental, Sirlei Gomes, que hoje atua na ONG, explicou como sua inserção no acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade mental tem contribuído no tratamento delas. “Na associação estimulam o nosso protagonismo. Hoje, na minha caminhada na Casa AME, faço acolhimentos com mais empatia porque também passei por isso”. O objetivo maior da reunião é que as práticas sugeridas sejam integradas aos serviços do SUS.