Covid-19: Farmacovigilância pós-vacinação no Brasil

A campanha nacional de vacinação contra a covid-19 começou em janeiro de 2021. Seis meses mais tarde, sabe-se que as vacinas aplicadas no país são seguras. A afirmação é baseada não apenas nos resultados das pesquisas clínicas com milhares de voluntários, mas também, após o uso em larga escala, pelas ações de vigilância brasileiras e internacionais. São elas que tornam possível a avaliação de eventos adversos raros e o acompanhamento de gestantes, pessoas imunossuprimidas e idosos, grupos que não costumam ser incluídos ou são sub-representados nos estudos de fase 3.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicita maior colaboração da população e dos profissionais de saúde para ampliar a notificação de eventos adversos pós-vacinação. A gerente-geral da Anvisa, Dra. Suzie Gomes, disse ao Medscape que, mesmo que se trate de efeitos adversos leves, é importante notificá-los. Além de identificar a ocorrência de eventos adversos graves e raros na fase 4 dos estudos, saber se os eventos leves estão dentro da faixa do esperado também faz parte dos objetivos da farmacovigilância.

É importante transmitir a mensagem de que as vacinas que estão sendo aplicadas na população brasileira são seguras, porém, como todos os imunizantes, passaram pelos estudos clínicos há pouquíssimo tempo, e há uma certa lacuna no conhecimento em relação à segurança desses agentes, disse ao Medscape o Dr. Eder Gatti Fernandes, infectologista do Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac, do governo do estado de São Paulo, que trabalha com vigilância de eventos adversos pós-vacinação. Aos colegas médicos, o Dr. Eder diz que, “se houver algum agravo temporalmente relacionado a qualquer vacina de covid-19, esses casos precisam ser notificados”.

A Dra. Isabella Ballalai, médica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) concorda: “É importante que o médico entenda que notificar é fundamental quando temos vacinas novas. Quanto mais notificações, quanto mais “N“, mais propriedade teremos ao afirmar que as vacinas são seguras. E a transparência dos dados é importante para que o profissional de saúde se sinta mais seguro, e na sequência, possa orientar, acalmar e tratar a população.”

Em um evento sobre segurança da vacinação, organizado pelo Conselho Regional de Medicina de Rio de Janeiro (Cremerj), a Dra. Isabella lembrou aos seus colegas sobre a história da vacina contra o papilomavírus humano (HPV, sigla do inglês Human Papilomavirus) no Acre, quando a falta de notificações impediu a pesquisa e comunicação adequadas, afetando a confiança da população na vacina. “É uma responsabilidade muito grande! Precisamos nos acostumar a notificar; é melhor ter um banco de dados cheio de eventos sem confirmação do que negligenciar uma situação que mereça cuidado especial.”

O objetivo da notificação não é apenas avaliar do ponto de vista individual, mas é uma forma de sistematizar dados e gerar conhecimento sobre a segurança das vacinas. “Infelizmente”, afirmou a Dra. Isabella, “na maioria das vezes a gente acaba se embasando mais na farmacovigilância de fora do que na nossa. No Brasil, nós temos a ferramenta, mas é pouquíssimo divulgada e está longe de ser amplamente utilizada. Para aumentar a notificação, o médico precisa entender o seu papel nisso.”

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